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terça-feira

Por que ensinar Música nas escolas?


Outro dia transitando pelas ruas do Rio Grande, ouvi um transeunte inflamado dizer ao seu colega em uma esquina: Para que aprender música na escola? O outro apenas sorriu como quem não deu real valor a pergunta ou que simplesmente não tinha a resposta para o amigo. Poderia ali elencar inúmeros motivos que vêm sendo disseminados ao longo de tempos, motivos estes que perpassam décadas, séculos, milênios, ora fazendo a música mudar de status como disciplina importante para a formação humana por questões filosóficas, ideológicas e culturais, o que
provavelmente, o interlocutor não teria compreendido em uma curta abordagem: a complexidade do tema.

Nos dias atuais, pelo senso comum a música esta associada à diversão, ao entretenimento, mas nós educadores musicais sabemos que ela é muito mais do que isto. Povos da antiguidade oriental já defendiam o ensino da música: Políbio atribuiu à música o poder de alterar o comportamento humano, o que parece que algumas ONGs redescobriram pelo menos dois milênios depois, já que as artes vêm resgatando jovens da marginalidade em vários projetos sociais, posso citar o afro-reggae e o Acema.

Platão por sua vez reconheceu nesta arte, grande influenciadora da forma de governo, o que nos faz lembrar que renomados músicos de que hoje são considerados ícones da música popular, foram extraditados em tempos de ditadura militar culpados de subversão por usar suas composições para denunciar abusos contra o povo, posso citar Gilberto Gil, Chico Buarque entre tantos outros. Na China Kung-Fu-Tse latinizado por Confúcio atribuía a música o poder de ordenar a moral do povo (moral no sentido de

valores e costumes), o que hoje, nós professores nos damos por conta ao ver nossos alunos rebolando Na Boquinha da Garrafa, vestindo-se à moda de grupos que tem por nome uma peça de roupa intima feminina ou que tratam as jovens por “cachorra” e então nos perguntamos “Por que deixamos de ensinar música na escola”?

Não prego aqui ser a música a salvadora da pátria, quem dera fosse! Como professora de música, devo anunciar as vantagens do ensino musical: a questão do trabalho em grupo em dias que vivemos na individualidade; do acesso e respeito à pluralidade cultural o que possibilitará reconhecer a negação da alteridade, quando desvalorizamos o que é do Outro em detrimento do que é nosso como vemos nas manifestações religiosas e artísticas populares; oportunizar uma fruição estética sem atribuir ao corpo status de objeto, o que acontece com nossas crianças que são diariamente bombardeadas pelos meios de comunicação com músicas de baixo calão e com mulheres com nomes de frutas, afinal, para nos divertirmos, não precisamos de termos e posturas rudes, agressivas e vulgares; enfim, possibilitar aos alunos a
apropriação de subsídios para poder escolher conscientemente o que é melhor para si e em consequência para os que os cercam para coexistir em um mundo melhor.

Não posso deixar de lembrar que a música é a arte dos sentidos, e através desta recebemos uma carga de emoções, sentimentos, sensações sem que percebamos, o que aos ouvidos desatentos e despreparados pode ser uma perigosa forma de recepção de conceitos e posturas que estão visíveis no comportamento dos jovens nas escolas.

Deixo aos que tem dúvida sobre a validação da importância da música na escola uma provocação: por que ensinar música mesmo?

Débora Jara. rofessora mestre.

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