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sexta-feira

Família ausente. Educação em crise


Hannah Arendt, há meio século, previu que a educação seria atingida pela crise da família contemporânea. Atualmente, testemunhamos os efeitos gerados a partir da dinâmica instalada na família, cujas relações são marcadas pela horizontalidade, decorrente do declínio do poder patriarcal, também associado à emancipação da mulher e à sua entrada no mercado de trabalho.

 Esses fatores modificaram a maneira de educar e a sintonia que existia, em especial, entre família e escola. Dentre essas mudanças, destaca-se a dificuldade dos pais de estabelecer e sustentar os limites, o que tem resultado em sintomas psíquicos e sociais evidenciados na incapacidade para lidar com a diferença, respeitar o outro e compartilhar a vida em sociedade.

Anteriormente, família e escola, com seus diferentes papéis, educavam de modo complementar. O declínio da autoridade paterna colocou em questão a hierarquia e, portanto, a legitimidade do lugar daqueles que representam a autoridade como pais, professores e gestores. Apagada essa referência simbólica, passaram a realçar a individualidade, as celebridades, os imperativos do mercado, as exigências de sucesso atrelado ao consumo de bens materiais e às “obrigatórias” jornadas excessivas de trabalho.

 Neste cenário, os pais, na tentativa de atender a esses apelos, tornam-se mais ausentes e portadores do sentimento de culpa que gera a compulsão a compensar os filhos, inclusive, esquivando-se de assumir a diferença da sua posição e do seu poder.

Consequentemente, a noção dos limites que devem valer para todos na sociedade se diluíram nos pactos privados, nas negociações e modos particulares que cada família escolhe e adota para nortear a convivência em geral. Essa é uma das razões pelas quais a escola é convocada a impossível tarefa de educar sem se contrapor às referências de cada aluno, de cada família ou, ao contrário, educar assumindo a responsabilidade sozinha.

 Tarefa impossível porque educar pressupõe a preservação da diferença de lugares e das gerações, a transmissão do respeito à história e à tradição, o que difere radicalmente da concepção que cultua a simetria das relações entre parceiros.

Segundo Hannah Arendt “a educação não pode desprezar a autoridade, nem a tradição, e deve mesmo assim exercer-se num mundo que não está estruturado pela autoridade, nem reservado para a tradição“.

Cabe a família e a escola não abdicarem da função de humanizar seus filhos e alunos, o que implica em referendar a noção da Lei que vale para todos, os valores éticos e morais que balizam os limites, as impossibilidades, a capacidade para aceitar e lidar com frustrações, perdas e diferenças.

Quando as referências simbólicas falham, a violência surge.

Estamos nos defrontando com os efeitos da falta de anteparo simbólico na família, na vida social e, evidentemente, na escola. No âmbito escolar, crianças e adolescentes intolerantes à frustração e às diferenças, tomam como alvos colegas e educadores.

Os educadores e gestores escolares ressentem-se diante do impasse: não fazer valer a noção de limites para todos, mas se adequar ao código que cada família apresenta e exige que seja validado na vida social. Impasse e, em muitas instituições, crise.

É chegada a hora de considerar a necessidade do reposicionamento e da aliança entre pais, professores e educadores. É hora de repensar os mitos que confundem e atrapalham a vida em comunidade, como por exemplo, os equívocos existentes entre liberdade e falta de limites; exercício da autoridade e autoritarismo; proximidade e permissividade; democracia e falta de respeito...

Impasses e crises abrem a vertente das novas direções. Não estamos precisando mudar o rumo?

Por: Por Sílvia Gusmão

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