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segunda-feira

A fome fala alto

Passamos por um período de crise hídrica com projeções avassaladoras para a população, tendo como principal chance de solução a boa vontade do meio ambiente, trazendo mais chuvas do que previsto para os próximos meses. E, desse cenário, podemos fazer um paralelo com a realidade financeira de milhões de brasileiros.
"Mas que loucura é essa?", você deve estar pensando. Eu explico: os erros dos governantes, principalmente no Estado de São Paulo, na administração dos recursos hídricos, são os mesmos que vemos em nossa população em relação aos recursos financeiros.
Excesso de confiança
A primeira semelhança é o excesso de confiança de acreditar que está tudo no caminho certo, sem projeções sobre cenários futuros, o que faz com que não se pense em reservas estratégicas, já que a vazão que se tinha era capaz que suprir toda demanda e até mesmo para uma "reserva de curto prazo".
Em relação à captação de água, esse erro gerou a falta de investimentos no que era necessário, assim, ficamos com uma realidade de armazenamento e captação defasada a nossa nova realidade e, frente a uma primeira estiagem, o cenário de caos se instalou, tendo que buscar alternativas emergenciais.
O mesmo ocorre com a população, que não faz diagnósticos periódicos de seus rendimentos e de suas despesas, não percebendo que custos e prioridades se alteram. Isso faz com que não tenham uma noção real da situação financeira, levando ao total descontrole, sem contar que não são feitas reservas estratégicas.
Esperança que a solução caia do céu
Outro erro similar que observo nas duas situações é a negação de que ocorreram erros no passado e buscar jogar a culpa em fatores externos. Isso faz com que a solução também tenha que ser proveniente de fatores que não estejam relacionados às nossas ações.
No caso do governo, o que podemos observar é que, por muito tempo, se negou que o período de estiagem pudesse ocasionar problemas no abastecimento da população, acreditando na sustentabilidade de um sistema ultrapassado. Isso fez com que não se realizasse um prévio racionamento, que diminuiria os impactos no futuro. Posteriormente, a culpa foi passada às condições naturais que não auxiliaram e, com isso, um provável racionamento será muito mais drástico e a esperança ficou simplesmente na mudança do cenário ambiental, com a vinda de mais chuvas.
Para a população ocorre a mesma coisa, muitas vezes, se observa a negação em aceitar que há um problema financeiro, acreditando em uma solução externa, como um aumento ou ganhos extras (até mesmo loterias). Com isso, o problema é deixado de lado e, quando se percebe, a situação é desesperadora, com impactos muito mais sérios para as vidas.
Assimilar o volume morto
O uso indevido de algo sempre traz impactos insustentáveis, e isso pode ser observado claramente na utilização inadequada do volume morto das represas como sendo algo natural e que foi associado à nossa capacidade de captação. Não era! Com isso, mesmo com as chuvas que já vieram, a situação ainda é muito deficitária e, para que haja uma normalização, será necessário um tempo muito maior, sem contar nos estragos que já são irreversíveis.
O mesmo ocorre com a população que assimila os valores do limite do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito como se já fizessem parte do orçamento, não percebendo que estão pagando os juros por esse uso indevido. Isso agrava muito mais a situação e uma estratégia para sair se torna muito mais árdua, levando, muitas vezes, a pessoa à falência.

Mudança de comportamento
Enfim, como pudemos observar, a similaridade entre a crise hídrica e a situação financeira de grande parte da população é grande. E as soluções passam, invariavelmente, pelo mesmo caminho, o planejamento. No caso do governo, é fundamental que não ocorra foco apenas em obras emergenciais e paliativas, mas sim em projeções sérias para o futuro; que sejam feitas ações como novas fontes de captação, novos reservatórios e reflorestamento, que possibilitariam melhorias ambientais.
Já para a população, o caminho é a educação financeira, mostrando que as pessoas devem conhecer a situação que vivem, projetar seus sonhos e objetivos e adequar suas vidas financeiras a essa nova realidade, possibilitando a realização de poupanças para o futuro. Enfim, as dificuldades já estão sendo sentidas e o melhor caminho para se tomar é enfrentar com inteligência, não mais se omitindo, e aprender com os erros do passado, projetando um futuro de realizações.

Mas parece que poucos escutam. Veja: a luta por comida no mundo tem chegado a níveis assustadores. Ertharin Cousin, a principal coordenadora do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmou recentemente que pela primeira vez a organização responde simultaneamente a cinco grandes crises. Mais: o PMA oferece apoio ao maior número de refugiados desde o fim da II Guerra Mundial. Terrível realidade. Uma prova a mais de que as barbaridades humanas - sejam praticadas por governos, empresas e até mesmo ONGs - não têm limites.

Em entrevista à Agência France Press (AFP), Cousin disse que o número de pessoas que precisam de ajuda alimentar continua a crescer. Devido à escassez de financiamento e às crescentes demandas das quatro maiores crises humanitárias no mundo, de refugiados e dos países afetados pelo ebola, Cousin contou que o PMA precisou reduzir algumas remessas e distribuições.
Ela destacou as crises no Iraque, na Síria, na República Centro-Africana e no Sudão do Sul, além das centenas de milhares de pessoas afetadas pelo surto de ebola no oeste da África e os mais de 50 milhões de refugiados no mundo.
O PMA é financiado por doações e cerca de 90% de seu orçamento vêm de governos, muitos dos quais enfrentam seus próprios desafios financeiros e domésticos, ela lembrou. "Então nós imploramos que eles continuem a ajudar porque nós vivemos em um planeta muito pequeno e não podemos priorizar uma criança faminta em vez de outra", acrescentou.
Mesmo na Síria, onde o programa elevou o número de pessoas atendidas para 4,1 milhões, após trabalhar durante anos para ampliar o acesso a alimentos no país, será preciso reduzir a quantidade de comida distribuída, informou Cousin. No Iraque, a organização apoia cerca de 880 mil pessoas e tenta chegar a 1,1 milhão.
No oeste da África, a autoridade disse que o PMA está trabalhando com a Organização Mundial da Saúde desde março para fornecer comida aos que precisam de tratamento médico para o ebola. A agência concede alimentos a mais de 185 mil pessoas na região e tenta elevar este número para um milhão.
Cousin também afirmou que o programa ajudou a conter a fome na República Centro-Africana e espera fazer o mesmo no Sudão do Sul, onde não houve época de colheitas. O caso do Brasil, ainda que com inegáveis avanços recentes no combate à fome e à miséria, inspira atenção. Muita atenção.
A voz da fome fala alto. É preciso, urgentemente, ouvi-la.

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Um comentário:

Isa disse...

E eu aqui pensando que só eu enxergava isso.
Enquanto essas crises acontecem debaixo do nosso nariz, o governo gasta milhões com pão e circo para iludir a massa.
Já passou da hora de acordarmos e encararmos a realidade!