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domingo

Rio Grande, uma construção (desconstrução?) coletiva

Apenas um dia atento ao noticiário será suficiente para o estrangeiro que aqui aportar se inteirar sobre a situação dramática do Rio Grande do Sul. Um desbocado diria: estamos com as calças na mão. No caso do visitante ter algum conhecimento sobre o Brasil ficará intrigado, se perguntando: como um Estado que foi tido como dos mais ricos chegou a esse ponto?
O estrangeiro ouvirá nosso rosário de lamentos (nada de terço, é rosário, sim): a saúde, o ensino (professor apanha de aluno em aula), a segurança (cresce o número dos que não saem à noite), a justiça (processo simples espera cinco anos por sentença) andam de mal a pior, a infraestrutura (escolas, postos de atendimento médico, estradas) é cada vez mais precária; o funcionalismo gasta horas preciosas exigindo melhores salários e condições de trabalho tendo consciência de que nada vai mudar.
Claro, o visitante observador precisará mais do que um dia para entender todas as causas do desastre que se abateu sobre a parte Meridional do país, porém de cara, sem delongas, sem controvérsia, sem contestação saberá que o Rio Grande do Sul do Terceiro Milênio é construção (ou seria desconstrução?) coletiva. Para o bem ou para o mal pegamos parelho, nada de individualismo, é coisa moderna, é ação coletiva, um seguindo o caminho do outro – mesmo não querendo, sempre descendo a ladeira.
Talvez a parte salutar da pepineira seja exatamente o fato de não termos a quem culpar ou responsabilizar (talvez o capeta, mas que vai conseguir encontrá-lo e, mais difícil ainda, provar tal culpabilidade?). A realidade que envolve o Rio Grande, repisada minuto a minuto por governadores, parlamentares, políticos de todos os matizes (centro, esquerda, direita, democratas, autoritários), rádio, jornal, TV, revistas, internet – salvo melhor juízo – é façanha nossa, é obra de todos. Façanha nossa? Quanta ironia!
Desde instante em que o rito para ocupar o Palácio Piratini foi por voto direto (em 1982 quando o Brasil ensaiava o retorno à democracia) o Rio Grande do Sul foi governado pelo PDS (hoje PP), PMDB, PDT, PT e PSDB. Por óbvio, sempre, o novo governante tomava posse anunciando que recebia um Estado quebrado. Pode? Sim, e sempre falando a verdade, ou seja, nossas finanças realmente cambaleavam. Sempre numa rotina de que nada tem de macanuda: de mal a pior.
Trata-se de contexto estranho: todos – governantes e governados – foram aos poucos, lenta e gradual como a abertura politica do gaúcho Ernesto Geisel, afundando o Rio Grande! Nada de tsunami vindo de supetão, de enorme crise abrindo cratera e nos jogando lá embaixo a ponto de mover a piedade internacional, nada disso. Foi devagar, numa constante: sempre gastando mais do que ganhávamos! E, na última década, parecemos estar em areia movediça: quanto mais nos mexemos, mais afundamos.
A estas alturas o estrangeiro que chegou olhando e indagando amplia seu campo de dúvida: como a brava gente dos pagos sulinos que foi desbravando o oeste de Santa Catarina, foi colonizar o sudoeste do Paraná, seguiu para fazer o mesmo no centro-oeste e no norte, que foi decisiva para consolidar, entre outras coisas, uma agricultura capaz de salvar o PIB nacional, deixou o Rio Grande como pneu careca difícil de recauchutar?
Nem gosto de pensar na resposta. Temo a resposta! Será que os empreendedores tiveram visão de futuro e foram embora aqui ficando somente (eu e mais 10.904.383 habitantes) os que adoram a pasmaceira? 


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