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segunda-feira

Muito amor



Está aí uma expressão que, de tanto ler nas redes sociais, já tem me provocado alguma náusea. Não que eu seja um saudosista do tempo em que amor era aquele amor romântico de serenatas e cafunés ao luar, muito menos escrevo porque sou um engajado em algum tipo de luta contra a "banalização da palavra amor"(existe isso?) . Longe de mim também querer ser contra o amor!

Sou apenas um incomodado com a falta de criatividade e personalidade que o nosso povo (conhecido, justamente, por sua criatividade) tem demonstrado no uso da expressão "Muito amor" para referir-se a tudo que acha bacaninha, supimpa, "fofo" ou ''da pontinha'', nas redes sociais.

Esse negócio de "Muito amor" é sempre usado, claro, como um elogio ou um tipo de ironia branca, mas a expressão (que nada tem a ver com o sentimento "amor", mas com modismo) não é a única que tem cansado "essas minhas retinas tão fadigadas"... Vejo também um uso exacerbado de outros dizeres em ''argumentações'' dos comentaristas de face, tais como "cagar regra", "aceita que dói menos" , "não gostou? Ignora", já como ofensa ideológica posso destacar o uso dos alimentícios "coxinha", "pão com mortadela", "caviar" e "pão com ovo" (apenas pra ficar em frases e termos que podem usar contra mim depois de lerem esse texto) e por aí vai.

No meu entendimento o uso repetitivo de certos termos (como uma epidemia de bordões do velho Zorra) demonstram certa crise de identidade, um impulso a fazer o que "todo mundo faz porque todo mundo faz", à padronização. Manja?

Eu diria que, desde a última que me arrisquei a preparar pão de queijo em casa, não via uma massa tão homogênea!
Agora, para mostrar, na pratica, do que estou falando, vou descrever alguns exemplos de "Muito amor na internet" que passaram pela telinha de meu computador durante o último ano:

Muito amor é...

Jim Carrey fazendo careta e imitando Hugh Jackman.
Woody Allen falando qualquer coisa.
O Eduardo Suplicy cantando Racionais MC's
O Papa sendo presenteado com um CD dos Racionais MC's
A página da prefeitura de Curitiba postando uma capivara.
Aécio Neves postando foto com a esposa.
Você, meu bom amigo, deve estar me achando um mala sem alça, um chato, eu presumo .
Mas veja bem, se você quiser ser só mais um no meio desse vulgo que mais parece um bando de robôs e papagaios que só conseguem pronunciar algumas (poucas) frases eu nada posso fazer, vá em frente, Deus nos deu livre arbítrio, é isso, amém!

Mas depois não reclame da falta de qualidade de conteúdo na rede. Bom, não foi por falta de aviso.



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O risco da desinformação e deformação da sociedade


É cada "coisa" compartilhada nas redes sociais que tem hora que pergunto a mim mesmo: o que estou fazendo aqui nas redes sociais?


Não seria melhor ficar off-line e voltar para os livros ou para onde eu possa encontrar fontes mais confiáveis de informação ou onde eu possa acompanhar o fluxo desta?

Temos presenciado um crescimento gigantesco no número de informações que circulam, sobretudo, via redes sociais. Se por um lado, isso é sinal de maior democratização da informação, por outro, nos deixa em alerta para o risco eminente de uma “desinformação” da sociedade, ou, diria, uma deformação.

O número de informações e sua velocidade impossibilita uma análise mais profunda e atenta do que lemos nas redes sociais, assim como nos impossibilita de checarmos cada uma das informações. Mentiras, verdades e meias verdades “voam” juntas, mais confundíveis que joio e trigo, que alho e bugalho.

O risco da desinformação se dá por três motivos combinados:

 i)por termos um sistema de ensino, sobretudo o público, com qualidade duvidosa;

ii)crescente ampliação de canais de infomações, tais como as redes sociais, onde todos são receptores, transmissores e produtores de informações sem pré-requisito e;

 iii) a falta de interesse e incapacidade de muitos leitores em chegar as informações recebidas antes assimilá-las ou de passar a diante.

O resultado dessa combinação se manifesta em informações que desenformam mais do que informam. Notícias e comentários mal explicados e inverdades são rapidamente compartilhados, desinformando a população; formando indivíduos equivocados quanto a vida política, econômica, social e cultural do país e do mundo.

Junto com a democratização da informação e da mídia informatizada, multiplicam-se os jornalistas amadores, assim como “críticos”, “ensaístas”, “sociólogos” e “filósofos” de plantão que tratam de tudo e de todos, disputando um “lugar ao sol”, ou melhor, uma curtida ou compartilhada de seus posts.

São verdadeiros caçadores de seguidores; sedentos por visualizações rápidas de tudo que expõem nas redes sociais. Se antes clamávamos por mais informação para a formação do cidadão, agora o risco de formação propiciada por esse tipo e volume de “informação” nos assombra.

O leitor, que antes era apenas receptor, bombardeado por tantas “notícias” acaba assimilando e reproduzindo um amontoado de informações, muitas vezes desconexas com a realidade. São tantos “especialistas em nada” que escrevem sobre “tudo e todos” que chega a me assustar.

 Quero ter viva a esperança que tudo isso levará as pessoas a lerem e a escreveram mais e melhor. Mas no momento presente estou um pouco assustado com o que vejo sendo compartilhado e curtido por milhares de internautas-leitores-autores e com o volume de informações não “ruminadas”.

Não que o leitor não encontre muitas informações úteis e importantes nas redes sociais. Tal espaço é importante e frutífero, mas também perigoso, sobretudo àqueles que não tiveram acesso a uma educação de qualidade.

Temos que ler com muita atenção cada informação e examinar os argumentos e as ideias apresentadas; isso se o fluxo nos permitir, sendo ele bem maior que o tempo disponível.

É cada “coisa” compartilhada nas redes sociais que tem hora que pergunto a mim mesmo: o que estou fazendo aqui nas redes sociais? Não seria melhor ficar off-line, voltando para os livros ou para onde eu possa encontrar fontes mais confiáveis de informação, ou, pelo menos, as quais em possa ler com mais atenção e analisar?


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Aparelho em crianças | Você sabe qual é o melhor momento para colocar?


Dúvida é muito comum entre os pais.


Uma dúvida muito comum entre os pais é em qual idade deve ser iniciado o tratamento ortodôntico. Normalmente, muitos levam os filhos somente quando um problema ortodôntico já se estabeleceu. “O ideal seria a criança ser acompanhada por um odontopediatra desde que os primeiros dentes de leite começarem a nascer.

 O acompanhamento, que deve ser no mínimo semestral, visa evitar vários problemas bucais, incluindo os ortodônticos. Infelizmente, ainda é comum encontrar casos onde não é dada atenção para os dentes de leite, devido a crença de que depois eles serão 'trocados' pelos dentes permanentes e, portanto, não precisam de cuidados. E é justamente aí que grande parte dos problemas iniciam”, destaca a professora da Escola de Odontologia da IMED, Dra. Graziela Oro Cericato.

Uma das maiores causadoras de problemas ortodônticos são as perdas precoces de dentes de leite. A docente explica que a perda de um dente de leite precocemente pode causar alterações no posicionamento dentário de toda uma arcada. “Além disso, os dentes de leite servem como guias para a erupção dos permanentes. 

Assim, quando se perde um dente de leite muito cedo o dente permanente que irá o suceder pode ficar retido e não irromper ou irromper apinhado (torto). Por isso, caso ocorra da criança perder um dente de leite muito cedo é fundamental que se instale um aparelho (que pode ser fixo ou móvel), chamado de mantenedor de espaço”.

É muito importante saber que existem diferentes tipos de aparelhos ortodônticos, podendo ser preventivos, interceptativos e corretivos. Os mais usados por crianças são os aparelhos preventivos e interceptativos, sendo que os aparelhos corretivos (fixos, com bráquetes), com exceção de alguns casos específicos, são indicados no início da dentição permanente, quando todos os dentes de leite caíram.

 “No entanto, há muitos procedimentos que não só podem como devem ser realizados antes da erupção dos dentes permanentes. É muito importante ficar atento a alguns hábitos, considerados deletérios, como chupar dedo, chupetas e roer unhas, já que, se perdurarem por tempo prolongado, podem ocasionar problemas como a mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e atresia maxilar (quando o céu da boca fica muito estreito). Nos casos de aparecimento de qualquer um desses problemas, eles devem ser tratados o quanto antes”, aponta a docente.

Um outro exemplo que necessita de intervenção precoce é quando um dente (o mais comum é o incisivo superior), nasce cruzado (por trás do incisivo inferior). A mordida cruzada nessa fase, exceto em casos muito graves, é fácil de se resolver. Para Graziela, as intervenções ortodônticas nas crianças são, na maior parte dos casos, tratadas com medidas simples que podem diminuir a necessidade de tratamento ortodôntico e até mesmo evitá-lo por completo.

 “Normalmente, na infância, o que se corrigem são os problemas funcionais, de crescimento dos ossos da face, de 'engrenamento' da mordida, falta e manutenção de espaços para a erupção dos dentes permanentes e na remoção de hábitos”, destaca.

A decisão pela idade certa para iniciar a intervenção é muito variável e depende sempre de uma análise individual de cada caso. O ideal é que já antes dos seis anos de idade a criança realize uma consulta com o ortodontista, que irá determinar a necessidade ou não de intervenção precoce. Conforme Graziela, muitas vezes, a criança e a família estão ansiosas pelo início do tratamento, sendo que em alguns casos ele é desnecessário e, portanto, não indicado.

 “Hoje em dia o recomendado é que o tempo de permanência do aparelho na boca seja o menor possível. Um dos principais fatores para isso é a dificuldade de higienização correta, que exige paciência por parte dos pais e da criança, já que os aparelhos fixos aumentam a retenção de biofilme”, finaliza.


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domingo

Refletir sobre o presente




Ao lançarmos nosso olhar sobre a educação contemporânea, somos levados a fazer uma reflexão sobre o passado e perceber algumas mudanças ocorridas nos sistemas educacionais mais adequadas às demandas sociais vigentes.

Segundo Sacristán (2000), refletir sobre o presente e planejar o futuro são impossíveis sem se valer do passado, pois é nesse tempo que é gerado o presente, e assim, por meio das imagens gravadas em nossa memória é que são construídas as bases do que está por vir.  É desta forma que o passado sobrevive no presente e este, no futuro.

Esse olhar também nos revela que a educação do futuro, estabelecida através do entrelaçamento de culturas, deve ser repensada constantemente.

Flecha e Tortajada (2002) evidenciaram algumas tendências da educação do novo século, geradas com o surgimento da sociedade da informação, na década de 1970, que requer novas competências para a inserção do indivíduo na sociedade e no mercado de trabalho.

É preciso, pois, considerar que a revolução tecnológica gerada nos últimos tempos colaborou para o surgimento de uma economia informacional e global conduzida por sistemas democráticos em nível micro e macro.

Na educação, percebeu-se que a sociedade da informação, priorizou o domínio de habilidades ligadas às técnicas e tecnologias vigentes. Dessa forma, as pessoas que não possuem as competências para criar e tratar a informação ou os conhecimentos exigidos pela rede de informação permanecem,  à margem dos processos de inclusão social, cultural e econômico.

Diante dessa situação, coube à educação formal proporcionar aos educandos acesso aos meios de informação e de produção, com o objetivo de minimizar ou superar esse quadro excludente.

É nesse sentido que manifestamos nossa preocupação com os que fazem parte da clientela escolar, os educadores e alunos. Nós educadores, visamos sempre uma educação que não apenas facilite o acesso dos educandos à uma formação fundamentada na aquisição de conhecimentos, mas, também permita o desenvolvimento das habilidades necessárias na sociedade de informação.

Outra tendência mencionada por Flecha e Tortajada e comungada pelos profissionais de educação refere-se à transformação de escolas em comunidades de aprendizagem. Para esses autores, a participação da comunidade é indispensável na superação dos processos de exclusão que ocorrem na sociedade informacional, afetando todos os níveis, inclusive o educacional.

Por muito tempo deixou-se de lado a ideia de que a educação é um instrumento útil para proporcionar a igualdade de oportunidades. A educação levada a efeito como aquela que compensa ou adapta o individuo a sociedade, é uma educação, que não observa o ser humano como ser integral e potencial. Tanto a compensação como a adaptação à diversidade sem a igualdade, leva à potencialização do círculo fechado da desigualdade cultural. Dentro dos princípios inovadores que norteiam a educação de qualidade, é indispensável repensar outras maneiras que, de acordo com as provocações geradas pelas mudanças impostas pela sociedade atual, partam da transformação e da igualdade.

Transformação, porque compensar ou adaptar leva à exclusão de determinados setores sociais, e igualdade, porque todas as pessoas esperam uma educação que garanta viver com dignidade.

A transformação da escola em comunidade de aprendizagem é a resposta igualitária para a atual transformação social. “Essas comunidades de aprendizagem partem de um conceito de educação integrada, participativa e permanente. Integrada, porque se baseia na ação conjunta de todos os componentes da comunidade educativa, sem nenhum tipo de exclusão e com a intenção de oferecer respostas às necessidades educativas de todos os alunos. Participativa, porque depende cada vez menos do que ocorre na aula e cada vez mais da correlação entre o que ocorre na aula, em casa e na rua. Permanente, porque na atual sociedade recebemos constantemente, de todas as partes e em qualquer idade, muita informação, cuja seleção e processamento requerem uma formação contínua.

O clima estimulante da aprendizagem está baseado nas expectativas positivas sobre a capacidade dos alunos” (Flecha e Tortajada, 2002, P. 34). Diante desta situação, torna-se indispensável o engajamento da comunidade escolar e familiar às funções da escola.

E assim, por caminhos diversos,  a comunidade escolar apresentando na centralidade os educadores e educandos  têm procurado desenvolver  ações dentro de um plano democrático de direito, na construção permanente da educação que acreditamos: formação integral do ser humano.



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sábado

A falência dos partidos e do modelo



Vai bem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quando diz que o sistema político vigente fracassou e lembra que já pegou o barco com as dificuldades que hoje se multiplicam sob Dilma Rousseff.

Desde a redemocratização pos-64, com Sarney, vigora o toma-lá-dá-cá, difundido pelo famigerado Centrão, na Constituinte, atribuindo a prática ao “é dando que se recebe”, da oraçao de São Francisco. Irresponsáveis, os sucessivos governos democráticos, inclusive o de FHC, construíram suas bases eleitorais e parlamentares através do loteamento de ministérios, estatais e cargos.

A prática era inicialmente contestada pelo PT que, no entanto, a adotou e ampliou assim que chegou ao poder, como bem demonstram os processos do Mensalão e da Lava Jato.

 Tudo acabou caindo no colo da presidente Dilma mas, convenhamos, seus antecessores também são responsáveis e precisam ser investigados. Cabe até, a partir das afirmações de FHC, montar uma CPI, onde cada um diga o que fez para evitar ou agravar o problema.

A classe política das últimas três décadas tornou-se mal acostumada e precisa ser responsabilizada. Daí vieram os partidos de conveniência, de aluguel e outras distorções que deságuam na explícita prática do escambo sempre que o governo tem de aprovar projetos do seu interesse e, com isso, distribui ministérios, cargos de segundo escalão e outras benesses aos parlamentares dispostos a votar.

 Na esteira dessa prática, surgiram os ocupantes de cargos de livre nomeação, normalmente cabos eleitorais, amantes, parentes e amigos de políticos ou de seus amigos ou financiadores, que pulam de cargo em cargo na estrutura de governo sem qualquer necessidade de qualificação para a função, já que sua competência é aferida pelo voto do padrinho.

O Brasil necessita de uma absoluta reengenharia no método de montagem dos governos e da atividade parlamentar. O governo precisa ser enxuto, com todos os seus integrantes da folha de pagamento em funções definidas e de necessidade comprovada.

O parlamento tem de se comportar como o poder independente e harmônico descrito na Constituição. Seus membros, representantes do povo que os elegeu, têm de votar os projetos conforme o interesse público e não turbinados por verbas, cargos e outros bens injetados em seu curral eleitoral ou – o pior – em sua conta bancária.

FHC tem razão. O modelo, que ele não estancou e nem denunciou, está exaurido e não se deve tacar pedras na presidente Dilma. Deve-se, no entanto, apurar todas as denúncias e punir exemplarmente quem tenha as cometido ilícitos, seja a presidente, ministros, servidores, parlamentares ou quem quer que seja.

 É preciso acabar com a política menor do clientelismo e do favorecimento, construindo-se governos mais competentes, legislativo mais atuante e uma classe política que o povo tenha razões para voltar a respeitar.

 
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História de onça


A criança tem dentro de si a instabilidade que viaja entre a crença e a convicção de sua cultura em formação. É bom, de vez em quando, sermos crianças. Não há abismo entre o natural e o sobrenatural. Ao contrário, existe uma ligação imperceptível entre nosso ego e o do outro. Mas não nos iludamos: somos completos estranhos a nós mesmos. E o próximo é a abissal diferença.

Numa crônica passada disse que ao amigo entrego a minha solidariedade total, menos as minhas lembranças; estas eu guardo como tesouro no meu coração. É com elas que encontro motivos para viver. Escrever é desamarrotar o passado, seja de um caso antigo que já vivemos ou da experiência vivida na história de outros. Por exemplo, um bom livro acende a criatividade que move os dedos no teclado. Uma mentira de pescador também.

Mas é difícil, na arrogância do supérfluo, viver a era do imediatismo delirante. Penso que o cronista sempre acha uma brecha para criar um novo texto. Flaubert ensina para “apontar sobre os objetos o aparelho de sua atenção e descobrir neles um aspecto que não foi visto nem dito por ninguém”.

Um dia desses, penso que há quinze anos, à noite, depois do jantar, no centro de uma roda com meus netos e outras pessoas, contei uma história de onça.

Numa noite escura, à beira do Lago Pium, enquanto esperávamos a janta feita pelo cozinheiro Osvaldinho, inveterado pinguço, ouvimos passos quebra-folhas em volta do acampamento feito de madeira e palmeira do lugar. Havia, além da luz de lampião, a do fogão à lenha onde se cozinhava. O barulho fora do acampamento – podia ser de um animal – começou a incomodar-nos.

Deve ser capivara, disse um.

Acho que é caititu fora da manada, disse o que preparava a caipirinha.

Que nada, disse o cozinheiro tagarela, é uma onça esperando um de nós sair para mijar. Ela não nos ataca por causa da luz.

O cachorrinho vira-latas, perto do fogão, grunhiu fininho.

Até vejo os olhos famintos da onça. Disse Osvaldinho com sua risada sem dentes.

Deve ter sido atraída pelo cheiro de comida.

A onça pintada esturrou forte, aterrorizando o acampamento. Silêncio na mata. Até os grilos pararam de cantar.

Continuo o causo com os olhos atentos da plateia.

Preparei-me para o ataque da onça. Passei a mão numa faca bem afiada. Usei a lanterna para ver na parte mais escura.

Nisso vi que a pintada vinha correndo quebrando paus no peito. Estava furiosa. De repente deu um salto longo como se seus pés tivessem molas. Queria pegar o cachorrinho do cozinheiro.

Levantei a faca com a ponta para cima. O couro da barriga foi partido do pescoço ao rabo. Quando passava, no ar, Osvaldo segurou na ponta do rabo da bicha.

O couro, inteiro, ficou e a onça foi embora sem a roupa pintada. Sumiu na mata escura.

Júlio disse, animado:

– Eu tava lá, né, vô?

O peão retrucou:

– Mentira danada.

Disfarcei o riso. Júlio acreditara na história; senti-me um herói.

É belo ter a paixão de criança.




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sexta-feira

Adoecimento dos professores em sala de aula



Tem-se verificado no Brasil o adoecimento de professores de todas as disciplinas, o que tem provocado prejuízos para todos, como a desistência da profissão e com isso o aumento do déficit de profissionais para atender a demanda. Uma das causas desse problema é aumento constante da indisciplina dos alunos. E o pior é que nada vem sendo feito pelo Estado via Ministério da Educação e muito menos pelas secretarias estaduais de educação.

A profissão de professor é a mais importante de todas. É ela que forma todos os outros profissionais. Desde o mesmo professor ao médico, advogado, engenheiro, etc.

Mas, o que o governo brasileiro tem feito nos últimos 20 anos? Nada em termos de melhorar a educação no país. Pelo contrário, criam leis para amparar mais ainda a rebeldia de crianças e adolescentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)  protege ao extremo, a ponto de muitos se apoiarem neste documento para cometerem mais delitos. Ou seja, crianças com direitos, porém, sem deveres, colocando a sociedade em estado de alerta pela preocupação que tem causado.

Foi tirado dos pais até mesmo o direito de dar a necessária “palmadinha” para a devida correção. O que só tira a responsabilidade dos próprios responsáveis de educar. Estamos formandos jovens e adultos sem limites. E o reflexo está bem estampado: a indisciplina.

E como lecionar para alunos indisciplinados, os quais já chegam à escola com esta característica? Paralelo a esta situação há um outro fator preocupante: falta de reconhecimento pela profissão, isto é, salários defasados, riscos de violência e sobrecarga de trabalho (correção de provas e exercícios, planos de aula etc.).

Uma professora entrevistada pelo programa Profissão Repórter afirmou que “hoje os adolescentes só conhecem os seus direitos e ignoram ou desconhecem os seus deveres… São extremamente irresponsáveis, mal- educados, sem limites, sem alma, sem valores… E não existe uma lei que pudesse pará-los… Não existe uma punição se quer… É um verdadeiro descaso. E o professor que poderia ajudar na construção de um mundo melhor, está ficando extinto”.

O professor se dedica, prepara uma senhora aula e se entusiasma para ministrá-la. Contudo, depara com um grupo que não quer nada com nada. E os mesmos acabam contaminando os demais, transformando a sala de aula um caos. 

A lei diz que não se pode reprovar, pois se perde muito tempo com isso, desmotiva alunos e gera gastos para o Estado. Este quadro desmotiva os professores. Não que eles desejam reprovar alunos. Isso é questão de desrespeito e desvalorização da profissão que leva muitos profissionais à desistência.

Quantos bons professores não mais estão na sala de aula por conta deste quadro caótico? O quanto o país tem perdido com isso? É preocupante o descaso das autoridades, que nada fazem. Preferem aumentar seus salários.

É claro que é preciso rever alguns pontos, por exemplo, os cursos de formação docente, que não formam, apenas informam das licenciaturas. Sim, é preciso melhorar a didática, porém, não basta ser eficiente. Segundo disse um professor entrevistado pelo programa Profissão Repórter, “o professor pode fazer a aula show, se fantasiar de palhaço, acenar bandeirinhas, que isso não faz o aluno sentir interesse pelo aprendizado”.

 Este é um dos grandes problemas. O aluno não tem interesse, ainda mais agora com a internet, os quais formam grupos e partem para a prática do Bullying endereçado a outros alunos e mesmo para professores.

Outro professor entrevistado pelo programa resumiu algumas (des)vantagens  que é ser professor no Brasil, principalmente na rede pública de ensino:

a) sofrer violência física e moral gratuita;
b) receber um salário de fome com direito a uma carga horária abusiva;
c) conviver com pais hostis, protetores e extremamente permissivos que irão à escola somente para defenderem seus filhos das faltas horrendas que cometerem, dizendo que se tratam apenas de crianças;
 d) sofrer bullying proferidos pelos alunos;
e) conviver com a falta de respeito por parte de seus queridos discípulos;
f) receber ticket de R$ 4,00, isso quando o governo resolve pagar;
g) Aceitar a progressão continuada, ou melhor, promoção automática (onde o aluno passa de ano sem saber nada);
 h) conviver com supervisores, diretores e coordenadores idiotas (pois sofrem “lavagem cerebral”), que ferram com o professor com seus assédios morais;
i) Aplicar centenas de provas e trabalhos para corrigir nos finais de semana;
j) Lecionar em escolas sem condições mínimas de funcionamento, enquanto que o professor faz greve, apanha da polícia hipócrita e é extremamente mal tratado pela mídia, inclusive sendo responsabilizado pela decadência do ensino público;
l) Realizar concurso com provas ferradas. O professor que quiser aumentar seu salário defasado há anos, terá que ser submetido a uma nova avaliação, priorizando ainda, apenas 20% da categoria (será que o governador e os parlamentares fizeram provinhas de promoção salarial por mérito para terem esse gordo aumento nos vencimentos?);
m) Aguentar classes lotadas de alunos;
 n) Saber que parlamentares aumentam em 60% seus salários, perfazendo um total de R$ 26.000,00 (enquanto um professor ganha aproximadamente menos de um salário e meio base);
o) Conviver com ausência total do poder de compra, o que não deveria acontecer aos profissionais de nível superior;
 p) Inversão de valores e intolerância por parte de uma sociedade psicologicamente doente, violenta e hipócrita;
q) Conviver com o stress, Síndrome de Burnout, humor irritadiço, perda da memória, queimação estomacal (azia), ulcera, cânceres, derrames e infartos por motivo da baixa autoestima, fator que ocasiona fragilidades na defesa do sistema imunológico do mestre;
r) Atrasar as contas de luz e água ou ser despejado do imóvel por não conseguir pagar o aluguel, em suma, morarás em um bairro paupérrimo, favela, de favores e assim por diante;
s) Andarás a pé;
t) Terá que engolir, sem questionamentos, a inclusão, de uma maneira geral e sem preparo algum;
u) Ter que aguentar resoluções que partem para a caça as bruxas e perseguem o professor que fica doente por motivo de exaustão e desgaste total por advento das intempéries acima listadas;
v) Terá que lançar mão das soluções paliativas, para driblar a falta de dinheiro, como empréstimos bancários e cartões de crédito (futuramente estourados);
 w) Desvalorização social acentuada;
x) Nome no SPC e no Serasa;
y) Políticos que não vão dar a mínima para suas reivindicações;
z) Viverão no inferno ainda em vida!

Como resultado de tanto descaso, indisciplina e desvalorização vem o adoecimento e a desistência da profissão. É preciso fazer algo, pois se corre o risco de complicar mais ainda a já falta de qualidade na educação brasileira.

E a tendência é se formar jovens e adultos sem limites, grossos, piorando o quadro desalentador já estabelecido.


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terça-feira

Um longo caminho em meio às estrelas


Periodicamente, o cinema revisita clássicos da literatura, dando chance a que desfrutemos de um novo enfoque, um novo jeito de perceber a vida e os sonhos que são eternizados na tela grande.

 É o que está acontecendo com o filme em cartaz, O Pequeno Príncipe. Baseado num livro infantil com mensagem para adultos, publicado por Saint-Exupéry, ainda durante a 2ª Guerra Mundial (1943), cativou gerações e, mesmo hoje, passar os olhos por suas poucas e densas páginas e desenhos é como mergulhar num turbilhão de emoções, reflexões e contínua busca de nossas origens, assim como do nosso destino.

Na nova versão, uma mãe quer encaminhar a filha "bem na vida". Para isto, acha que ela precisa começar a ter disciplina de adulta em miniatura, com compromissos, aprendizados e comportamento típicos. Mas... sempre há um "mas"... próximo mora um velho que resolve provocar a menina para uma aventura diferente e colocar o seu mundo de cabeça para baixo.

 Evoca a figura típica do contador de histórias que sobrevive desde os menestréis, atravessa as rodas em torno das fogueiras, até o pai ou a mãe que julgam não ser perda de tempo sentar na beira da cama de uma criança e estimular a sua imaginação.

O instigante é que, pelos olhos deste vizinho, a garota encontra o Pequeno Príncipe e a sua saga desde que se desentendeu com sua rosa, em seu pequeno asteroide, percorrendo diversos planetas até chegar à Terra. Mais de 60 anos depois, o escritor e aviador desencadeia bons motivos para resgatar linhas, sentenças, situações, relações, figuras que o tempo pode esmaecer, mas não consegue apagar.

Nos ecos da memória, passam frases como: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"; "só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos"; ou ainda "amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção", entre tantas outras que lemos, um dia ouvimos alguém citar ou, quem sabe, murmuramos no ouvido de quem quisemos bem...

Estas frases, assim como muitas outras, na essência dizem a mesma coisa: é preciso cativar! Não é a arte mais fácil. Normalmente, usamos como escudo a desculpa de que os outros são difíceis e que fica melhor quando nos ensimesmamos. Fechados, nos protegemos contra tudo e contra todos. Mas não se pode ficar assim por muito tempo. Tocando a vida, a jornada se apresenta com longos períodos de caminhada, muitas quedas e, sempre, a esperança de que, ao levantar, haja um novo rumo na estrada!

Em 2004, encontraram no Mar Mediterrâneo restos de fuselagem do que supostamente teriam sido os destroços do avião que era pilotado por Saint-Exupéry. Morreu em 1944, um ano antes do fim do conflito mundial. Lamentei aqui a descoberta. Naquela época, como hoje, creio que há coisas que ficam melhor quando são guardadas pela Eternidade.

Acreditava - e acredito - que na hora em que o avião perdeu altitude e arremeteu em direção ao mar, uma mão pousou sobre o ombro do homem angustiado por saber que era seu fim. Foi o suficiente para superar o medo e todas as incertezas. O menino que o acarinhava tinha um olhar brilhante e a certeza de que estava perto de reencontrar sua Rosa.

Apenas murmurou: "Estamos voltando pra casa. É um longo caminho em meio às estrelas!"



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Transforme suas desculpas em seus motivos.


A diferença básica entre uma pessoa fracassada e uma pessoa de sucesso é a forma como ENXERGAM o mundo ao seu redor.


As fracassadas enxergam muitas DESCULPAS. Para tudo elas possuem uma boa história para justificar porque não conquistaram seus objetivos até hoje. Umas dizem que é por falta de tempo, outras por falta de dinheiro, outras porque não possuem perfil, outras porque o chefe é ruim e assim por diante.

Já as pessoas de sucesso, os vencedores, enxergam MOTIVOS. Se elas não possuem dinheiro, querem fazer algo para ter mais dinheiro. Se elas estão sem tempo, vão fazer coisas que lhes dê mais tempo. Se não possuem determinada habilidade, vão buscar desenvolver essa habilidade. Se o chefe não permite que elas vençam, elas vão vencer o chefe, mudar de empresa ou começar um negócio próprio. Elas transformam problemas em MOTIVOS para vencer e mudar de vida.

Enquanto você ficar usando desculpas para não viver a vida de seus sonhos, você continuará sendo quem você é tendo os resultados que você vem tendo. Não tem como ser diferente! É uma questão lógica e que é regida pelas leis da natureza. Como diz meu mentor, Jim Rohn, “para ter mais amanhã, você precisa ser mais do que é HOJE”.

Cada desculpa que você usou em sua vida serviu apenas para você ficar confortável com seu baixo desempenho. É isso mesmo! Toda desculpa só serve para você não reavaliar o resultado, não enfrentar seus medos e não pensar em um plano melhor para a próxima vez.

Que tal listar no papel todas as desculpas que você vem usando ultimamente e descrever o que você pode fazer para resolver cada uma delas DE UMA VEZ POR TODAS? Que impacto essa ação terá em sua vida?

Nosso desejo é que você decida se tornar uma PESSOA DE SUCESSO. Que você decida se tornar um VENCEDOR. Porque, com toda a certeza, este é um caminho muito melhor para VOCÊ.

Tenha um excelente dia.



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segunda-feira

Vergonha, timidez ou isolamento social?


Indivíduos com dificuldades em interagir socialmente podem ter prejuízos na vida pessoal e profissional.


Dificuldade para desempenhar atividades cotidianas como iniciar, manter e finalizar conversas; manter um comportamento introspectivo durante trabalhos em grupo, contatos telefônicos ou virtuais; ter dificuldade ou vergonha de falar com o chefe, convidar alguém para sair, iniciar um namoro, ajudar um amigo em necessidade, pedir ajuda; ou timidez para expressar o que pensa e sente de forma coerente, respeitando os outros, além de diversas outras situações podem ser sinais de que o indivíduo está tendo problemas com suas habilidades sociais.

O termo habilidades sociais é utilizado para os diferentes comportamentos sociais desempenhados pelas pessoas no seu dia a dia, tais como pedir ajuda, manter diálogo, fazer e responder perguntas, expressar sentimentos, lidar com críticas e elogios, admitir erro e pedir desculpas, escutar empaticamente, entre outros. Esse conjunto de comportamentos contribui para que as pessoas tenham uma vida mais saudável e produtiva.

Segundo estudo desenvolvido pelas docentes da Escola de Psicologia da IMED, Dra. Marcia Fortes Wagner e Me. Simone Nenê Portela Dalbosco, na maioria das vezes, as pessoas que possuem habilidades sociais mais desenvolvidas apresentam melhor desempenho em sua vida pessoal e profissional.

“Já aquelas pessoas que demonstram um repertório deficitário de habilidades sociais, com características como a timidez e o isolamento social, podem apresentar dificuldades em suas interações sociais, demonstrando insegurança e desconforto nas situações nas quais necessitam falar de si, expressar afeto ou desagrado e lidar com a crítica dos outros”, destacam.

Os indivíduos socialmente habilidosos sabem onde, quando e como se comportar de maneira adequada. Porém, quem possui dificuldades e essa habilidade pouco desenvolvida, tende a se comportar de forma passiva nas interações sociais.

“O indivíduo aceita o que é imposto, não estabelece limites e, em diversas situações, tem dificuldade de expressar suas próprias opiniões e manter relações de coleguismo ou amizade. Muitas vezes, as pessoas que apresentam repertório deficitário em suas habilidades sociais, podem também ter problemas psicológicos como fobia social, depressão, síndrome do pânico e outros”, alertam as professoras e psicólogas.

A solução para esse problema é aprender a ser socialmente hábil, o que pode auxiliar na prevenção e redução de dificuldades psicológicas. Por não ser uma tarefa fácil, o melhor caminho é procurar o auxílio de um profissional da área da psicologia para que haja o estímulo e desenvolvimento das capacidades.

 “O aprendizado de novas habilidades interpessoais pode promover interações sociais pessoais e profissionais mais satisfatórias, propiciando uma melhor qualidade de vida”.


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Essa tal sociedade em crise



Eu tenho visto um grande número de economistas e intelectuais em geral analisando a crise brasileira em curso e não me conformo com os termos por eles colocados a respeito do sujeito que deverá ser o protagonista para a superação da mesma. Falam, em geral, que a “sociedade” terá que fazer opções, ou mais essa ou mais aquela, como se para isso o governo não existisse.

Fica implícita nessas falas a ideia de que tal “sociedade”, essa coisa indefinida, é que pode dar os rumos da nação. A tal “sociedade” não existe, é figura de retórica que esconde um fato grave: a ideia de que o povo governa diretamente o Estado, confusão vem de longe e praticamente desde a origem do Estado democrático moderno.

Alguns até anseiam pela democracia direta, mas essa não existe em parte alguma porque é impraticável e, quando é tentada, torna-se um instrumento de legitimação de governantes totalitários.

Percebo que essa gente fala na tal “sociedade” de boa fé, porque se recusa a ver o óbvio: que mesmo uma república democrática é um regime misto. A democracia só vale até as urnas serem fechadas, depois caberá à classe política, eleita, e aos funcionários públicos a gestão dos negócios do Estado.

 Não é a tal “sociedade” que delibera e governa, mas essa elite que é distinta da sociedade, mas a representa. Em miúdos, cabe ao governo constituído deliberar sobre os ramos da nação e não a uma suposta sociedade organizada.

Esse viés também ajuda a esconder a mediocridade das análises e das proposições. Economistas e intelectuais mais das vezes precisam agradar aos governantes e evitam fazer declarações que estejam em desacordo com as crenças correntes. Admitir que o sujeito exclusivo do processo é o governo é uma dificuldade mental, pois os tais intelectuais pelejam para ver a prática das crenças de Rousseau na democracia direta.

Dizer que é um regime misto que está vigente é dizer o óbvio, mas aí tem a palavra detestada a ser dita: há uma aristocracia que governa  parte dela temporária (cargos eletivos) e parte dela permanente, os funcionários públicos.

O tamanho da crise que se criou colocou inclusive os interesses específicos dessa aristocracia governante em xeque. Por exemplo, a elevação dos proventos dos funcionários do Poder Judiciário. Obviamente que o que se pretendia  elevação de quase 80%, é incompatível com a escassez em que o Tesouro está mergulhado.

Ainda assim, os funcionários estão em greve, ignorando solenemente o desemprego galopante e o arrocho salarial que está em curso no setor privado. Os magistrados superiores tiveram então que encontrar um meio termo mais de acordo com os tempos frustrando a aristocracia judiciária.

Nenhum órgão é mais aristocrático e apartado da sociedade do que aqueles que compõem o Poder Judiciário.

Isso não quer dizer que os governantes ignorem a realidade para a tomada de decisão. Como agora, algumas vezes há paralisia decisória precisamente porque objetivos contraditórios estão postos. Como combater o desemprego se se elevam os impostos, por exemplo, elevação essa exigida pela penúria da arrecadação? Outro exemplo é o desejo coletivo de estabilidade de preços colidindo com a necessidade do realinhamento dos preços relativos, como o que foi feito com o câmbio e a tarifa da energia elétrica. A armadilha mais das vezes é gerada pela cegueira ideológica, que impede a correta hierarquização dos objetivos a serem alcançados.

Essas contradições são colocadas porque o Estado alcançou tamanho gigantesco e os interesses cristalizados em torno de suas despesas impedem a racionalidade na execução orçamentária. Os jornais de hoje informam a disposição dos governadores dos estados de elevar tributos e tarifas, no momento em que parte considerável da população está desempregada e empobrecida.

 Certos que alguns nem conseguem mais pagar os salários do funcionalismo, todavia o drama mensal da conta de luz agigantada pelo tarifaço dá o tamanho da tragédia em que estão vivendo os mais pobres. Os governadores estão impelidos pela inércia contraditória de ou reduzir despesas ou aliviar o sofrimento geral da população. É claro que a hipótese de reduzir despesas nunca foi cogitada seriamente. Agora isso precisa acontecer. Quem viver verá.



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domingo

O fio de Ariadne


Na mitologia grega, Ariadne é filha do Rei de Creta, Minos. A bela e jovem Ariadne encantou-se com o herói Teseu, a quem ajudou a vencer uma luta contra o Minotauro, metade homem, metade touro, que encontrava-se em um labirinto. A bela ofereceu a Teseu uma espada e um novelo de linha.

O novelo, desenrolado tão logo, o ateniense entrasse no labirinto, serviria como indicador do caminho de volta. Assim, o “fio de Ariadne” transformou-se em um símbolo de raciocínio lógico para resolução de problemas complexos.

A educação básica brasileira encontra-se num labirinto, que exigirá de todos, família, educadores, governantes, sociedade, enfim, todos, um raciocínio tão qual utilizado por Teseu, para resolver os complexos problemas da nossa educação. O mundo sempre esteve em crise. Crise faz parte da vida. A crise marca o desenvolvimento da humanidade, sobretudo na contemporaneidade.

Se vivemos um mundo em crise é evidente que a educação também vive uma grande crise. Vivemos também tempos de mudanças e a escola, especialmente a escola pública, não acompanhou essas mudanças.

O processo de mudanças é bem fácil de identificar, quero utilizar-me da filologia para explicar isso rapidamente. Temos uma estrutura linguística que permite que a gente se comunique. Há uma linearidade discursiva. A estrutura verbo, sujeito e predicado faz parte do nosso modelo de pensamento. Logo, eu falo, você ouve, e para que você se expresse, eu preciso ouvir. Bem, essa linearidade do discurso não foi e não é capaz de dar conta da complexidade do cotidiano. É evidente que essa complexidade ao longo do caminho insiste em ser sufocada, sobretudo por regimes totalitários… Mas a internet vem romper de vez com essa lógica da linearidade.

Na internet não existe linearidade de tempo, tal qual a conhecíamos. Essa influência da internet, das redes sociais, de uma nuvem complexa, que tudo acontece ao mesmo tempo: música, vídeos, bate-papo, up loading de foto e etc., têm influenciado no modelo de pensamento e até mesmo psíquico dos chamados nativos digitais.

Tudo isso aconteceu de forma muito rápida a escola não conseguiu acompanhar esse desenvolvimento. A instituição escolar pública é burocrática, engessada, cheia de regras e normas em que muitas coisas são proibidas e poucas são permitidas. Em suma, nossa escola é uma instituição regularizadora, normalizadora de comportamentos, seletiva e discriminatória.

A escola brasileira, parafraseando o professor da Universidade de Lisboa, Rui Canário, têm produzido imaturos políticos e sociais. Esses imaturos políticos e sociais é culpa do nosso modelo de ensino.

E o que é nosso modelo educacional hoje? O que caracteriza-o? Três fatos marcam o nosso modelo escolar: A industrialização tardia, a ditadura militar. Até a década de 50 a educação brasileira era reflexiva. Tínhamos filosofia, artes, francês, espanhol, enfim, era uma educação pública de extrema qualidade. Mas era uma escola para poucos. Era uma escola elitista.

Com a industrialização de maneira abrupta o Brasil empurrou milhões de pessoas para escola. As pessoas tinham que saber ler e escrever. Surgi a escola de massas. A escola como depósito de gente. Amontoadas umas sobre as outras. O lema “escola para todos” se torna o ideal a ser seguido. Poucos municípios no Brasil, não têm menos de 97% das crianças na escola.

Mas a grande questão é: Como essas crianças estão nas escolas? Como é a qualidade desse ensino? Como é a estrutura das nossas escolas?

A ditadura militar também contribui de maneira negativa, e ainda tem gente que sai com cartaz na rua pedindo a voltar dos militares, para esse processo de falência de nossa educação pública. É na ditadura militar que a escola passa a ser uma máquina contra o pensamento reflexivo. Além de ser adestradora, a educação no período militar exerce aquilo que Michael Foucault, filósofo francês, problematizou na obra Vigiar e Punir: A história das violências nas prisões. A escola, assim como outras instituições, passa a ser um instrumento de vigília da sociedade. É a escola como prisão.

Bem, o leitor mais atento deve perguntar-se: mas o autor desse artigo não disse que eram três fatos que caracterizam a escola no Brasil? Foram dois até agora, mas qual seria o terceiro? É a influência do pensamento socrático-platônico.

 Esse pensamento é responsável pelo processo de idealização da civilização ocidental e, por conseguinte da escola brasileira. Nossa instituição escolar é meramente teórica, simulacro de uma realidade abstrata que só existe dentro dela própria. Não dialoga com vida, com a complexidade que a vida é, não se comunica com o mundo do trabalho, é verbalista.

Lembra-se de Ariadne? Como não a temos do nosso lado, com seu fio de novelo, resta-nos encontrar a saída desse verdadeiro labirinto, que é a nossa educação pública.

O século XXI, já encontra-se no seu ano 15, é imperativo que repensemos o currículo escolar, repensemos a escola, seus espaços e etc. E é nossa obrigação, nós educadores, estarmos na vanguarda desse debate.

O mundo já conviveu sem escola. É possível um mundo sem escolas. As grandes transformações na contemporaneidade ocorrem fora da escola, essa está cada vez mais anacrônica e obsoleta. Porém, ainda há tempo para mudar, resta saber se estamos dispostos. Com a palavra… Nós educadores e educadoras.


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