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terça-feira

Novos dados para discutir maus-tratos em partos no país

Recentemente a Universidade de São Paulo (USP) divulgou um estudo internacional sobre violência obstétrica. Parece absurdo em 2015 ainda existirem relatos de mulheres sobre maus-tratos vividos em instituições de saúde na hora do parto. Mas, conforme a revista Plos Medicine, dos Estados Unidos, eles existem e a maior porcentagem dos casos acontece em países pobres ou em desenvolvimento, mas mesmo nos ricos, como na América do Norte e na Europa, foram observados problemas com o preconceito e discriminação e pouco cuidado com o corpo feminino nessa hora tão delicada.

Apesar dessa realidade em que cada vez mais se reconhece o tratamento negligente, abusivo e desrespeitoso da mulher durante o parto nos serviços de saúde, até hoje não existe um consenso global quanto à forma como essas ocorrências devam ser medidas.

A obtenção de uma lista desses maus-tratos foi uma das primeiras respostas dadas por uma equipe multinacional de pesquisadores que analisaram 65 estudos científicos sobre o tema realizados em 34 países e envolvendo cerca de duas mil mulheres.

Os resultados foram publicados no final de junho na Plos Medicine. Segundo os cientistas brasileiros, integrantes da equipe, essa foi a maior revisão da literatura já realizada sobre os desrespeitos, abusos e maus-tratos que as mulheres sofrem durante a assistência ao parto que, aqui no Brasil, é conhecido como "violência obstétrica". O trabalho brasileiro foi coordenado pelo professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, João Paulo Souza, com a cooperação de Fernando Saraiva Coneglian e Alex Luiz Araújo Diniz, alunos da FMRP.

O estudo, segundo os especialistas, configurou os tipos de problemas de saúde pública enfrentados pelas mulheres em sete categorias: abuso físico, abuso sexual, preconceito e discriminação, não cumprimento dos padrões profissionais de cuidado, mau relacionamento entre as mulheres e os prestadores de serviços e condições ruins do próprio sistema de saúde. Com esse levantamento, os estudiosos da área esperam oferecer ajuda para mais estudos e para o desenvolvimento de maneiras de medir, informar e evitar os abusos.

O mundo ainda hoje convive com altas taxas de mortalidade materna; ao ano, são cerca de 300 mil mortes por complicações no parto em países de baixa ou média renda per capita. Isso, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter preconizado para 2015 uma diminuição de 75% dessas mortes, o que equivaleria a 95 para cada cem mil partos.

Essas metas internacionais são afetadas também pelos maus-tratos em hospitais que recebem as parturientes. Os especialistas acreditam que muitas delas ficam longe dos serviços de saúde e acabam sofrendo problemas que podem levar à morte por não terem aporte profissional, como hemorragia, infecção e pressão arterial elevada. Os médicos asseguram que, para salvar a vida da mulher, o cuidado deve ser rápido e profissional.



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