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domingo

O fio de Ariadne


Na mitologia grega, Ariadne é filha do Rei de Creta, Minos. A bela e jovem Ariadne encantou-se com o herói Teseu, a quem ajudou a vencer uma luta contra o Minotauro, metade homem, metade touro, que encontrava-se em um labirinto. A bela ofereceu a Teseu uma espada e um novelo de linha.

O novelo, desenrolado tão logo, o ateniense entrasse no labirinto, serviria como indicador do caminho de volta. Assim, o “fio de Ariadne” transformou-se em um símbolo de raciocínio lógico para resolução de problemas complexos.

A educação básica brasileira encontra-se num labirinto, que exigirá de todos, família, educadores, governantes, sociedade, enfim, todos, um raciocínio tão qual utilizado por Teseu, para resolver os complexos problemas da nossa educação. O mundo sempre esteve em crise. Crise faz parte da vida. A crise marca o desenvolvimento da humanidade, sobretudo na contemporaneidade.

Se vivemos um mundo em crise é evidente que a educação também vive uma grande crise. Vivemos também tempos de mudanças e a escola, especialmente a escola pública, não acompanhou essas mudanças.

O processo de mudanças é bem fácil de identificar, quero utilizar-me da filologia para explicar isso rapidamente. Temos uma estrutura linguística que permite que a gente se comunique. Há uma linearidade discursiva. A estrutura verbo, sujeito e predicado faz parte do nosso modelo de pensamento. Logo, eu falo, você ouve, e para que você se expresse, eu preciso ouvir. Bem, essa linearidade do discurso não foi e não é capaz de dar conta da complexidade do cotidiano. É evidente que essa complexidade ao longo do caminho insiste em ser sufocada, sobretudo por regimes totalitários… Mas a internet vem romper de vez com essa lógica da linearidade.

Na internet não existe linearidade de tempo, tal qual a conhecíamos. Essa influência da internet, das redes sociais, de uma nuvem complexa, que tudo acontece ao mesmo tempo: música, vídeos, bate-papo, up loading de foto e etc., têm influenciado no modelo de pensamento e até mesmo psíquico dos chamados nativos digitais.

Tudo isso aconteceu de forma muito rápida a escola não conseguiu acompanhar esse desenvolvimento. A instituição escolar pública é burocrática, engessada, cheia de regras e normas em que muitas coisas são proibidas e poucas são permitidas. Em suma, nossa escola é uma instituição regularizadora, normalizadora de comportamentos, seletiva e discriminatória.

A escola brasileira, parafraseando o professor da Universidade de Lisboa, Rui Canário, têm produzido imaturos políticos e sociais. Esses imaturos políticos e sociais é culpa do nosso modelo de ensino.

E o que é nosso modelo educacional hoje? O que caracteriza-o? Três fatos marcam o nosso modelo escolar: A industrialização tardia, a ditadura militar. Até a década de 50 a educação brasileira era reflexiva. Tínhamos filosofia, artes, francês, espanhol, enfim, era uma educação pública de extrema qualidade. Mas era uma escola para poucos. Era uma escola elitista.

Com a industrialização de maneira abrupta o Brasil empurrou milhões de pessoas para escola. As pessoas tinham que saber ler e escrever. Surgi a escola de massas. A escola como depósito de gente. Amontoadas umas sobre as outras. O lema “escola para todos” se torna o ideal a ser seguido. Poucos municípios no Brasil, não têm menos de 97% das crianças na escola.

Mas a grande questão é: Como essas crianças estão nas escolas? Como é a qualidade desse ensino? Como é a estrutura das nossas escolas?

A ditadura militar também contribui de maneira negativa, e ainda tem gente que sai com cartaz na rua pedindo a voltar dos militares, para esse processo de falência de nossa educação pública. É na ditadura militar que a escola passa a ser uma máquina contra o pensamento reflexivo. Além de ser adestradora, a educação no período militar exerce aquilo que Michael Foucault, filósofo francês, problematizou na obra Vigiar e Punir: A história das violências nas prisões. A escola, assim como outras instituições, passa a ser um instrumento de vigília da sociedade. É a escola como prisão.

Bem, o leitor mais atento deve perguntar-se: mas o autor desse artigo não disse que eram três fatos que caracterizam a escola no Brasil? Foram dois até agora, mas qual seria o terceiro? É a influência do pensamento socrático-platônico.

 Esse pensamento é responsável pelo processo de idealização da civilização ocidental e, por conseguinte da escola brasileira. Nossa instituição escolar é meramente teórica, simulacro de uma realidade abstrata que só existe dentro dela própria. Não dialoga com vida, com a complexidade que a vida é, não se comunica com o mundo do trabalho, é verbalista.

Lembra-se de Ariadne? Como não a temos do nosso lado, com seu fio de novelo, resta-nos encontrar a saída desse verdadeiro labirinto, que é a nossa educação pública.

O século XXI, já encontra-se no seu ano 15, é imperativo que repensemos o currículo escolar, repensemos a escola, seus espaços e etc. E é nossa obrigação, nós educadores, estarmos na vanguarda desse debate.

O mundo já conviveu sem escola. É possível um mundo sem escolas. As grandes transformações na contemporaneidade ocorrem fora da escola, essa está cada vez mais anacrônica e obsoleta. Porém, ainda há tempo para mudar, resta saber se estamos dispostos. Com a palavra… Nós educadores e educadoras.


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